quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Um Bálsamo interior...

Ao assistir a palestra da Fabiana Vascon sobre a obra "Dom Casmurro" me passou pela cabeça duas leituras: Uma passagem do poema de Drummond e Por que ler os clássicos de Italo Calvino.

Talvez minhas associações fossem meio toscas, mas e daí? Vale um post, oras.
E, para falar bem a verdade, não foram tão toscas assim...

Lembrei de uma passagem do poema do Drummond que é o seguinte:

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.


Sim, pode parecer esquisito, afinal de contas, trata-se de um poema e, não de uma prosa. Lembrei desse poema pelo fato de achar que Machado criou suas obras em um lugar assim, oníríco, límbico. A habilidade machadiana parece ter a sua gênese no reino das palavras, no reino descrito por Drummond, um lugar transcendente que, poucos alcançaram.

Ainda, não poderia esquecer a elegância com que Machado escreveu, sua aireza, destreza, seus temas tão esmiuçados, que paradoxalmente, tinha um certo mistério. Agora a máxima: Capitu traiu ou não traiu Bentinho? De que adianta, leitores? De que adianta saber se, na verdade, você foi conduzido, ludibriado? Se você foi vítima de seus próprios preconceitos, juízo de valores?

Está aí. É justamente aí que Italo Calvino me veio à cabeça!
Em seu livro o escritor enumera características de um clássico, entre elas, as que achei mais interessantes:

Um clássico é uma obra que provoca incessantemente uma nuvem de discursos críticos sobre si, mas continuamente as repele para longe.

Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram ( está aí o caráter atemporal da obra)

Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual.

Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.

Poderia reproduzir todos as caracteristicas de definem um clássico, mas essas, já bastam. Bastam porque somente a leitura e a releitura de Memórias Postumas, Dom Casmurro entre outras obras reafirmam a receita de Calvino.


Mas ainda há espaço para um Grand Finale:

Chama-se de clássico um livro que se configura como equivalente do universo, à semelhança dos antigos talismãs.

Um comentário:

  1. muito bom, não acredito que perdi essa palestra ! Mas oh, eu queria um post ARE BABADO .. faz? hahahhaahahaha
    beeijoo !

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